Morte de Cristina Buarque aos 74 abala música brasileira e samba carioca

Morte de Cristina Buarque aos 74 abala música brasileira e samba carioca

Cristina Buarque: A Guardiã do Samba se Despede

O Brasil perdeu em 20 de abril de 2025 uma das figuras mais emblemáticas do samba e da música brasileira. Aos 74 anos, Cristina Buarque, dona de uma voz reconhecida pelo respeito ao samba tradicional, faleceu devido a complicações de câncer. Mas sua vida foi muito mais do que uma linhagem famosa — ela era filha do historiador Sérgio Buarque de Holanda e irmã de Chico Buarque, Miúcha e Ana de Hollanda. Mesmo assim, Cristina traçou um caminho próprio e corajoso no cenário musical, marcado pela valorização das raízes e tradição.

Nascida em São Paulo em 1950, Cristina sempre carregou a música no sangue. Porém, ao contrário de seus irmãos mais midiáticos, preferiu uma carreira discreta, quase “clandestina” em seus próprios termos, mas extremamente respeitada nos bastidores da noite carioca. Sua devoção ao samba era evidente — ela estreou com o disco ‘Cristina’ em 1974, resgatando composições de mestres como Geraldo Pereira, Nelson Cavaquinho e Cartola. A partir daí, dedicou-se a dar voz ao repertório de compositores do morro e nomeou gerações de sambistas esquecidos pelo mercado.

Seu papel foi fundamental na redescoberta de sambas antigos e na manutenção da cultura dos pequenos palcos, nas rodas de samba e festas do subúrbio do Rio de Janeiro. Cristina acreditava que essas músicas eram verdadeiros documentos vivos da história brasileira. Ao longo das décadas, dirigiu projetos, participou de álbuns coletivos e formou parcerias com artistas como Elton Medeiros, Paulo César Pinheiro e Mauro Duarte. Era comum vê-la em rodas tradicionais, como a do Bip Bip, e em outros redutos onde o samba respirava com autenticidade.

Mas não pense que ela era apenas intérprete. Cristina Buarque também compôs e assinou letras em parceria, consolidando-se como referência entre estudiosos e músicos. Fugia dos holofotes, mas sua influência ecoava em toda a MPB. Ao longo de sua trajetória, foi reconhecida como “a memória viva do samba carioca”, sempre presente onde havia necessidade de resgatar autores como Wilson Moreira, Aniceto do Império ou Candeia.

Legado e comoção entre os nomes da cultura

Legado e comoção entre os nomes da cultura

Basta circular pelas redes sociais e rodas de samba para perceber o impacto de sua partida. Basta perguntar para jovens músicos das comunidades cariocas: todos sabem quem foi Cristina. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou luto e exaltação à “extraordinária” contribuição de Cristina para a cultura, lembrando como ela ajudou a eternizar a poesia das comunidades das ladeiras cariocas em um país que muitas vezes ignora suas próprias raízes.

  • O disco ‘Cristina’ virou item de colecionador e referência para quem quer entender as nuances do samba.
  • Seus projetos de pesquisa e preservação de sambas históricos inspiraram gerações a não deixar a memória dos antigos morrer.
  • Fãs, artistas do samba e críticos aclamaram sua capacidade de unir tradição e sensibilidade contemporânea.

Apesar do sobrenome de peso da família, Cristina se tornou um símbolo de que é possível trilhar caminhos diferentes, experimentar formas alternativas de viver a arte e tocar corações sem depender da fama convencional. Sua presença seguirá inspirando músicos e apaixonados por música brasileira, mostrando que o samba, no fundo, é resistência e reinvenção diária.