Parece inacreditável, mas o Boca Juniors está mesmo atolado até o pescoço num dos piores jejuns da sua longa história. Na última noite, o time argentino empatou de forma sofrida por 1 a 1 com o Racing Club, no estádio lotado da Bombonera em Buenos Aires. Com esse resultado, o Boca acumula 12 partidas sem vitória, sua sequência mais longa em 118 anos. É crise batendo à porta de um gigante sul-americano, com a torcida já ficando impaciente e cada jogo transformando-se em mais pressão para o elenco e comissão técnica.
O jogo até parecia que terminaria mal para os donos da casa. O Racing abriu o placar na segunda etapa, aos 31 minutos, depois de uma jogada que parecia despretensiosa: Gabriel Rojas arriscou de longe, a bola desviou e sobrou limpa para Santiago Solari, que empurrou para a rede de cara com o gol. Foi um balde de água fria na galera xeneize, que até então apoiava com barulho e esperança. Mas o alívio veio nos instantes finais, quando Milton Gimenez subiu mais que todo mundo para cabecear, após uma cobrança de falta milimétrica de Leandro Paredes, garantindo ao menos um empate em casa.
Mas a reação não diminuiu em nada a bronca da arquibancada. Apesar do ponto conquistado, milhares de torcedores começaram a deixar o estádio antes mesmo do apito final, descontando a frustração em um time que parece incapaz de engrenar. Desde a última vitória, contra o Estudiantes no fim de abril, a equipe seguiu acumulando tropeços, derrotas e empates (cinco resultados negativos e sete igualdades no período), incluindo resultados constrangedores como um empate com o modesto Auckland City, da Nova Zelândia, no Mundial de Clubes.
O Boca não tem um elenco qualquer. Entre os titulares, desfilam nomes fortes no futebol europeu como o goleiro Agustín Marchesín (ex-FC Porto e Seleção Argentina), o meio-campista Rodrigo Battaglia (rodado pelo Sporting de Portugal), Luís Advíncula (que já jogou na Primeira Liga portuguesa) e ainda Leandro Paredes, campeão mundial com a Argentina e responsável pela assistência do gol. Mesmo assim, o grupo não consegue vencer nem adversários considerados mais fracos, o que liga o alerta na diretoria e revolta a gigantesca torcida azul e ouro.
No Campeonato Argentino, o cenário é ainda mais tenso: só três empates e uma derrota em quatro jogos. O Boca amarga o 13º lugar entre 15 times no Grupo A do torneio Clausura, com apenas três pontos, ficando atrás até mesmo do Racing, rival direto, que está um ponto à frente. Nomes como River Plate, Belgrano e o próprio Rosario Central também se destacaram na rodada, mostrando que o Boca, por enquanto, só assiste os concorrentes na parte baixa da tabela.
Depois da partida, Leandro Paredes tentou acalmar o ambiente, reconhecendo que a equipe precisa reagir logo e que a dedicação nos treinos tem de se transformar rapidamente em vitórias. Só que a torcida não tem mais paciência: o nome do técnico Miguel Ángel Russo, alvo de críticas ferozes, está na guilhotina, com a imprensa local cada vez mais descrente de uma reviravolta sem mudanças profundas.
Para quem cresceu vendo o Boca Juniors acumular títulos e protagonizar histórias épicas, assistir a esse momento é quase surreal. Resta saber por quanto tempo os dirigentes conseguirão segurar a pressão antes de mudanças radicais sacudirem o clube de Buenos Aires.