Na quinta‑feira (24), o ex‑assessor internacional do presidente Jair Bolsonaro compareceu ao Supremo Tribunal Federal para ser questionado sobre sua participação em supostos planos de ruptura institucional após as eleições de 2022. O interrogatório foi conduzido pelo juiz auxiliar Rafael Henrique Janela Tamai Rocha, que integra a assessoria do ministro Alexandre de Moraes.
Desde o início, Martins mostrou resistência. Ao relatar as condições de sua prisão preventiva, o réu foi acusado de responder de forma "circular". O juiz, impaciente, advertiu: "Não é hora de dar aulas de utilitarismo ou pragmatismo. Vamos aos fatos, por favor".
Mesmo com o alerta, o ex‑assessor insistiu em aprofundar a argumentação e questionou se suas palavras poderiam competir com as do magistrado. "Mas a minha palavra compete com a sua?", perguntou. A resposta não tardou: "Eu não estou sendo interrogado, você está".
Ao perceber a tensão, o defensor de Martins, o advogado Jeffrey Chiquini, pediu ao juiz uma semana extra para a preparação da defesa, alegando que o tempo era insuficiente para um caso de tal complexidade. Rocha, porém, ressaltou a escassez de agenda da corte e limitou o prazo. Chiquini, sem perder o ritmo, afirmou que "se necessário, gastaremos um mês" para garantir a ampla defesa.
Durante o depoimento, o réu negou categoricamente vínculo com o chamado "coup minute" – o suposto plano de golpe – e refutou as acusações da Polícia Federal de que teria fugido do país no final de 2022. As declarações foram registradas como parte da fase de investigação dos chamados núcleos 2 e 4, que investigam as articulações que teriam culminado na tentativa de ruptura do processo democrático.
O episódio ilustra a atmosfera de confronto que tem marcado as investigações ligadas ao golpe de 2022. Enquanto a promotoria busca consolidar provas, a defesa tenta ampliar o espaço de contestação. O desfecho das perguntas feitas hoje ao ex‑assessor pode influenciar os rumos da operação, que ainda tem diversos caminhos a percorrer no STF.